Francisco, el hombre em bate-papo exclusivo e a experiência de assistir ao show

20:55Sonora


(Foto: Rodrigo Gianesi) 


Era Carnaval. São Paulo estava meio cheia e meio vazia. Em meio a apuração das escolas de samba, surgiu o primeiro show que eu viria a assistir da francisco, el hombre. Ouvi algumas músicas, baixei para curtir off-line e, quando vi, já estava disseminando o trabalho da banda pelas redes sociais. Achei político. Poético. Gritante e sensível.

À cortesia do Sesc Santana, localizado na zona norte da capital paulista, cheguei pensando que o show do SOLTASBRUXA, segundo disco da banda, formada por Sebastián Piracés-Ugarte (vocal, percussão e violão); Mateo Piracés-Ugarte (vocal e violão); Juliana Strassacapa (vocal e percussão); Andrei Martinez Kozyreff (guitarra) e Rafael Gomes (baixo, vocal de apoio), seria no teatro, pequenininho e aconchegante, mas era a céu aberto. Faça chuva ou faça sol, a ideia era deixar as pessoas livres pelo espaço, ainda que a iluminação e o som estivessem dignos de um palco estruturado e acústico.


E foi só agora, em abril, que digeri o que pra mim – e estou me dando o direito de escrever esse texto em primeira pessoa – tem que ser o futuro da música nacional. Foram mais de doze músicas no setlist, a junção convidativa do som peculiar brasileiro e a dançante cultura latina. Houve baile. Houve integrante se envolvendo com o público no meio da música, sim.

É um show – pois eu acredito que todos sejam assim – que mexe com a gente. Que empodera a musicista que está no palco, a incrível Juliana Strassacapa (voz e percussão) e as mulheres da plateia. Que discute política sem fazer você pensar se seu partido é certo ou errado. É a política do bem e do mal. Da reciprocidade e das reflexões do mundo atual que passa batido pela gente quase sempre; o “Fora Temer” é uma posição. Acate-a se acreditar nela, mas continue respeitando o próximo.


E, sendo música na sua raiz natural, é pra dançar e esquecer lá fora. A missão foi cumprida. Começou a chover e estávamos nem aí. Foi um espetáculo de qualidade que, no fim, dá vontade de sair convidando todo mundo, porque duzentas pessoas são poucas para a quantidade que eu quero apresentar. Foi nesse anseio que corri atrás de um bate-papo exclusivo com a banda sobre mercado fonográfico, cenário atual, próximos planos, identidade e mais, que você confere agora. 


SNR: Foi em uma sugestão do Spotify que, ao ver o nome da banda, me interessei por me identificar com a cultura latina. Percebi que vocês não são uma banda latina nem uma banda brasileira, são uma junção de culturas que conversam entre si e se encaixam com facilidade. Afinal, com tanta diversidade, como encontrar o equilíbrio? Ele existe?
Sebastián Piracés-Ugarte (vocalista e baterista): Acho que o equilíbrio está em sermos nós mesmos. E somos o que somos, eternamente em transformação, à procura do som perfeito, buscando aprender a todo momento. Não sei se algum dia chegaremos a um equilíbrio maior que o que já estamos. Errando e acertando.

Vocês fazem parte de uma cena alternativa que não tem medo de transformar as letras das canções em manifestos de causas sociais. Mas a linha entre a discussão saudável e um discurso sem consistência é tênue. Como vocês perceberam que o primeiro disco cheio da banda poderia trazer temas que cutucassem o conservadorismo sem perder a sensibilidade para tratar os personagens dessas causas?
Acho que a ideia era conseguir falar o que queríamos falar sem necessariamente "falar" tanto e sim fazer mais. Meio confuso, né? A gente conversa muito entre nós, sabemos rir dos nossos clichês e defendê-los também. Acho que só foi dessa maneira que pudemos abordar temas pesados, mas de uma maneira relativamente "leve" e outros temas pesados com a seriedade que merecem. É importante se levar a sério. "triste, louca ou má" é, foi e continuará sendo uma aula permanente, de abaixar a cabeça e ouvir e procurar aprender. Mas também é importante poder rir para não chorar. E na real, a gente decidiu cantar para nós mesmos, sabe? Quando você tá fodido de grana e bate o desespero e você olha pro lado e vê teu amiguinho na mesma merda, cê dá risada saca? Por exemplo, cadê o dólar? Tá com dólar, tá com Deus.

Ainda sobre tratar de temas delicados, porém essenciais, desde o lançamento do disco vocês chegaram a receber relatos de pessoas que tinham uma história ou que estavam passando por um momento difícil e viram na música e na mensagem de vocês uma saída para não ser só mais uma estatística? 
Sim. Temos recebido muitos relatos. Muito mais do que a gente imaginava. Gente tatuando frases por todo Brasil. Muitos relatos de superação de depressão, de relacionamentos abusivos, de incertezas, de inseguranças. Acho que isso é o mais gratificante de tudo que já fiz na vida. Nunca vou esquecer de quando na minha adolescência a música salvou minha vida, me deu um caminho, e prometi que se algum dia conseguisse fazer pelo menos uma pessoa superar um momento difícil eu estaria realizado. Nunca imaginei que a música iria tão longe assim. Mas está indo. E ajudando muitas pessoas. E sou muito feliz e grato de poder fazer parte disso.

                                                                 (Foto: Vladimir Fronza)

Vocês foram convidados para tocar em Cuba antes mesmo de lançar o primeiro disco e assim fizeram um financiamento coletivo que arrecadou mais de vinte mil reais. Você, bem como os outros integrantes, já tentaram olhar a francisco, el hombre de fora para entender - e interpretar - esse cenário que vocês conquistaram? Afinal, a banda independente que saiu de Campinas ganhou público em diversos países. A multicultura é a ponte para o outro lado?
Cara, confesso que nunca consigo olhar muito bem no espelho - olhar para mim; tenho dificuldade enorme. Mas é absurdo saber que temos conseguido fazer tanta turnê internacional em tão pouco tempo e adquirir tanta experiência em tão pouco tempo. Parece que foi ontem que a gente decidiu largar tudo para tocar violão na praça. Sei que desde o primeiro dia a gente vive dando passos muito maiores que as pernas e depois passa meses trabalhando sem parar para tentar dar certo. Sei que amo viajar e conhecer lugares, pessoas e culturas e isso tem me alimentado artisticamente, acho que é esse amor por conhecimento e por viver que tem nos feito crescer tanto enquanto pessoas e músicos e nos dado energia para nos reinventarmos sempre.

Em um estudo científico que me envolvi recentemente sobre a era do streaming musical, o que mais ouvi dos artistas foi que essas plataformas são uma vitrine. Mas é impossível (para artistas de pequeno porte) viver com o repasse monetário das mesmas. Isso porque o valor repassado por cada play não chega a cinco centavos. Para vocês, o streaming que antes era considerado o futuro do mercado fonográfico já é o presente? Qual a posição de vocês sobre o assunto?
Eu acho que o mercado de streaming é uma enorme polêmica. Sim, podemos divulgar nossa música, e é uma ótima vitrine, mas no final das contas o artista nunca fez tão pouca grana vendendo sua música como hoje em dia. Artista de gravadora com grana continua se destacando, porque injeta grana para divulgação. Sou a favor da pirataria e da livre distribuição de música, cultura e informação e acho que tem gente ganhando em cima do suor de muito artista de forma injusta. Ainda há de aparecer um mercado de streaming que seja mais justo para o artista, espero eu. Vejo sites como Bandcamp, onde a banda dá seu preço e o público pode baixar de graça ou contribuir da maneira como puder/quiser. Acho que temos que fazer algo para incentivar que o público também queira ser justo com o artista.

                                                                   (Foto: Nube Abe)

Com uma agenda de shows movimentada, o que o público pode esperar da francisco, el hombre, para esse ano? Ir para a estrada disseminar o SOLTASBRUXA é a prioridade atualmente?
Esperem nada, mas esperem tudo. O nosso show é uma eterna mutação, cada show é diferente do outro, sempre dando a máxima quantidade de energia possível, nos entregando até onde dá. Quero tocar o SOLTASBRUXA em todos os cantos possíveis, conhecer o máximo desse Brasilzão e melhorar como músico, performer, compositor. Já tô na instiga de gravar coisas novas, compondo pelo menos uma música por dia, sem parar. Se pá mais um disco?

E, pra finalizar...
Sejam tudo aquilo que vocês querem ser e estejam dispostos a enfrentar o mundo inteiro para encontrar a felicidade dentro de si. Sejam verdadeiros, sempre. E se a sociedade diz de outra maneira, tá na hora de mudá-la. Beijos de luz a todo mundo aí, agradeço a atenção. Se falei confuso peço desculpas, minha cabeça funciona de um jeito meio disléxico mesmo.

Acompanhe francisco, el hombre nas redes.



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